quarta-feira, 23 de agosto de 2017

JOSÉ SANTANA DE VASCONCELOS, NOSSO MAIS CÉLEBRE POLÍTICO



Eu o vi pela primeira vez em um comício. Fiquei admirado com aquele sujeito elegante , que tinha uma voz diferente e falava muito bem. Perguntei ao meu pai: quem é esse home? E meu pai falou: esse é o José Santana, o homem que trouxe o asfalto para Alvinópolis. Fiquei mais admirado ainda. Que homem poderoso era aquele que conseguiu levar o chão preto pra Alvinópolis, um lugar tão pequeno que ninguém nem sabia da existência? Pois Santana ajudou a colocar Alvinópolis no mapa. O que ele conseguiu pra cidade, nenhum outro homem público conseguiu. Eu não imaginava que alguns anos depois teria a oportunidade de me reunir com aquele grande alvinopolense.
Quando fomos gravar o Disco do Verde Terra, foi que tive a primeira conversa com ele em seu gabinete. Cheguei tremendo, morrendo de medo de tratar com uma pessoa tão importante. Não esperamos muito e a secretária mandou a gente entrar. Manoel de Jayme tava comigo. Combinamos que seríamos rápidos pra não tomar o tempo do deputado. Eu pensei assim: se tivermos 5 minutos pra expor nosso projeto tá bom. Mas sabem o que aconteceu? O Santana mandou descer café, água, biscoito, começou a falar sobre a árvore genealógica tanto da família do Manoel quando da minha. Quando entrei ele falou: Ih...você é filho de Tony Animia? Nossa Senhora. Conheço todo mundo. Os Abreu Lima foram fundadores de Alvinópolis. Ele é um dos maiores contadores de caso que já conheci. Fomos emendando uma conversa na outra e quando fomos ver, já estávamos conversando há mais de uma hora. No final ele nos ajudou com patrocínio para o Disco do Verde Terra, nos passou telefone pessoal, da casa dele, foi uma festa. Depois dessa ocasião, estive outras vezes com ele. E eu já ia preparado, pois sabia que iríamos contar casos, falar de Alvinópolis, da política, de cultura. Lembro-me que ele me contou que sua carreira  teve início nos grêmios estudantis. Foi onde começou a fazer política e percebeu que levava jeito pra coisa. A partir daí foram vários mandados como deputado estadual e federal, presidente da assembléia de Minas por duas vezes  e dirigente de diversas instituições importantes, como BDMG e IMA.


Com Anastasia

Santana me contou vários casos da política do passado, do tempo em que seu Nilo era prefeito. Seu Nilo também já havia me contado que fizeram muitas coisas naquela época e conseguiram estruturar a cidade. Também com Vicente Rocha , Dr Marinho, Dico Lavanca e com o Marcinho, últimos parceiros que teve. Depois a política municipal mudou a configuração e ele também ampliou seus locais de votação em outras regiões. Outro fato muito interessante de sua biografia é que ele foi secretário de Juscelino Kubitscheck, portanto testemunha ocular de importantes páginas da história desse país.

Foi secretário de Juscelino
Muitos o consideram ainda hoje uma das maiores raposas políticas de Minas, sujeito com uma sensibilidade política incrível que mantém ótimo relacionamento em todas as esferas. Da última vez em que falei com ele foi em sua fazenda, onde mais uma vez ele deu mostras de sua hospitalidade. Nos recebeu, mesmo adoentado e nos deu uma aula de política, com sinceridade e gentileza. Ele me chama de "pena de ouro", o que me deixa envaidecido partindo de um sujeito que tem um ótimo texto e que foi agente da história. É um político diferente, sempre disponível. Não teve uma vez que eu liguei pra ele que não atendeu. Hoje tem whatsapp e é a mesma coisa. Sempre solícito e gentil. Tentei falar com ele algumas vezes sobre fazer um livro de memórias, biográfico, para que esse legado sirva aos mais jovens.
Seus filhos, herdeiros políticos...
Mas parece que a idéia o perturba. Ele está muito vivo e o seu tempo sempre foi o futuro. É uma pessoa com a qual não me reuni tantas vezes quanto os correligionários, mas sempre sai um pouco mais sábio de cada encontro, o que me permitiu compreender a sua importância para os Alvinopolenses de tantas gerações. José Santana é um Alvinopolense de imenso valor. 

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

PROFESSOR ZÉ DE CHICO, ALVINOPOLENSE DE IMENSO VALOR


in memorian
Como muitos alvinopolenses, confesso que estranhava o comportamento excêntrico daquele senhor. Zé de Chico cortava Alvinópolis a pé sempre ouvindo seu radinho de pilha.Lembro-me de uma madrugada em que estava sem sono. Parece que o Zé tava subindo a avenida e parou debaixo de uma marquise perto da nossa casa na rua de cima para esperar a chuva passar. Mas o radinho continuou ligado...e no silêncio da madrugada parecia que o radinho tava dentro do meu quarto. Percebi que não era inglês. Era uma língua estrangeira muito esquisita. No outro dia minha mãe explicou: - Quem parou ali foi o Professor Zé de Chico Soares, um dos homens mais inteligentes de Alvinópolis. Ela me deixou foi curioso. Passei a olhar aquele homem com admiração. Quando ele passava eu fazia questão de cumprimentar. E não é que ele cumprimentava de volta? Acabei puxando papo e fiquei amigo. Várias e várias vezes subi a avenida de madrugada sozinho com Zé de Chico. A gente levava quase 2 horas da baixada até a rua de cima. Mas as conversas sempre valiam à pena. As histórias em torno da vida dele eram muitas. Alguns diziam que foi torturado na época da ditadura, o que talvez o tenha deixado menos sociável. Eu não cheguei a ouvir isso da boca dele. Fui um dos muitos alvinopolenses que se iluminaram nas conversas com aquele sujeito muito especial. Ele tinha um bocado de seguidores que ficavam sempre por perto para absorver um pouco do seu conhecimento. Sua casa beirava o surrealismo. 

Imagine um lugar em que quase só havia livros. Não tinha móveis e nem luxo, mas milhares e milhares de livros de diversas épocas, clássicos, filosofia, etc. Você sentava em livros, as mesas eram livros. E ele era absolutamente generoso. Emprestava, fazia questão de repassar conhecimento. Zé de Chico me indicou livros que mudaram minha vida pra sempre e sei que fez isso com um bocado de gente. Era poliglota. Tinha uma facilidade incrível com o aprendizado de línguas. O pessoal dizia que ele falava 51 idiomas. Um exagero, claro. Mas era fato que ele aprendia as línguas que eram necessárias. Certa vez veio um técnico na cia que era japonês. O danado do Zé de Chico não só entendia como falava muito bem o japonês. Bateu altos papos com o japa. Também dominava diversas matérias: biologia, química, matemática, física, literatura, filosofia. E durante algum tempo deu aulas gratuitas pro pessoal que pretendia fazer vestibular. Infelizmente as aulas acabaram por falta de alunos. Acreditam? Talvez por que as aulas eram de graça. Eu tive a sorte de ter algumas aulas de biologia que me ajudaram muito. Mas as principais aulas  foram nos bate papos sobre filosofia, sobre o comportamento humano e sobre a literatura universal. Ele representou um salto no tempo para várias gerações. Zé de Chico foi (é) um alvinopolense de imenso valor.